Perda auditiva causada por produtos químicos
Quando se fala em perda auditiva causada por atividades ocupacionais, o excesso de ruído é sempre visto como o grande vilão. Apesar de realmente constituir a principal causa de danos, muitos profissionais se esquecem de que ele não é o único agente responsável. Vibrações e calor em excesso, por exemplo, podem gerar efeitos negativos, mas o que poucos sabem é que substâncias químicas também causam doenças auditivas.
Esse é um tema recente na bibliografia relacionada à segurança e saúde do trabalho, porém de grande importância. Na dissertação “Efeitos de produtos químicos e ruído na gênese de perda auditiva ocupacional”, a pesquisadora Andréa Azevedo alerta que os processos produtivos sempre utilizaram produtos químicos e a cada ano novas substâncias são testadas e chegam ao mercado, mesmo sem o estudo correto de sua toxicidade. Ainda dependemos muito deles para produção de alimentos, medicamentos, têxteis, automóveis e em diversas outras áreas.
Os primeiros estudos surgiram no século XIX, associando algumas substâncias (como o quinino e o ácido salicílico) à mudança temporária no limiar auditivo, tonteiras e zumbidos. Mas foi somente na década de 1940 que a ototoxicidade – característica de substâncias que intoxicam as orelhas internas, provocando consequência em longo prazo, como a perda auditiva – foi reconhecida como um verdadeiro problema ocupacional.
Apesar disso, a pesquisa feita por Andréa alerta para os efeitos crônicos de baixas doses, que são praticamente desconhecidos para a quase totalidade das substâncias. “Esses são motivos que fazem com que as fontes de risco de origem química adquiram importância crucial para avaliação e intervenção.”
A dificuldade em detectar uma perda auditiva causada por produtos químicos está em suas características, semelhantes às observadas nas provocadas por ruídos. Alguns autores acreditam, inclusive, que esse problema pode ser numericamente mais relevante em plantas industriais, mas o diagnóstico incorreto prejudica as pesquisas na área.
Dentre os principais causadores de doenças ocupacionais estão os compostos orgânicos – como o tolueno, benzeno e xileno, muito utilizados em solventes industriais –, além de metais pesados, agrotóxicos, organofosforados e substâncias que apresentam ação asfixiante, como monóxido de carbono e cianeto de hidrogênio. Trabalhadores de indústrias químicas, frentistas de postos de combustível e trabalhadores rurais devem ter atenção redobrada com essas substâncias.
Combinação perigosa
Um estudo de 2009, feito nas instituições sul-coreanas Gachon University Graduate School of Medicine e Korea Occupational Safety and Health Agency, analisou a relação entre o excesso de ruídos, a exposição a produtos químicos e o aumento do risco de perda auditiva entre os trabalhadores.
Foram examinados mais de 30 mil empregados de diversos tipos de indústria e observou-se uma ligação direta entre esses três fatores. Trabalhadores expostos a ruídos eram 1,64 vezes mais propensos a desenvolver perda auditiva do que os que não conviviam com esse risco ocupacional. Já aqueles expostos a solventes orgânicos ou metais pesados eram 2,15 vezes mais predispostos.
Dupla proteção
Para prevenção desses casos, os equipamentos de proteção individual são essenciais aos trabalhadores. O respirador já é obrigatório para minimizar a inalação de produtos químicos, mas também é necessário utilizar protetores auriculares, mesmo que o nível de ruídos esteja abaixo do recomendado. Como a combinação dos dois riscos pode gerar efeitos mais intensos, o ideal é utilizar todas as possibilidades para se prevenir.
Além disso, as empresas também devem limitar a exposição desses trabalhadores a ruídos. É essencial criar programas de Conservação Auditiva e fazer uma análise constante do ambiente para não causar mais danos aos empregados.
Tratamento
Prevenir é sempre a melhor maneira de evitar a perda auditiva, mas, se a situação se mostrar irreversível, é preciso tratá-la. Existem diversos modelos de aparelhos auditivos no mercado, mas quem está apto a indicar o melhor para cada paciente é um fonoaudiólogo. “A avaliação audiométrica estabelece o tipo e grau de perda auditiva do paciente e, com isso, podemos proporcionar o melhor tratamento”, analisa Daiane Lopes Guimarães, fonoaudióloga da Sercon.