Como identificar o Distúrbio do Processamento Auditivo Central
Ouvir bem nem sempre é sinônimo de entender o que está sendo dito. Não é uma questão de falta de conhecimento, mas de uma alteração neurológica que afeta a capacidade de concatenar as informações. Com isso, também vem uma dificuldade para localizar de onde vem o som e concentrar-se, além da necessidade constante de que se repita o que foi dito. E esses são apenas alguns sinais do Distúrbio do Processamento Auditivo Central (DPAC).
O que é o DPAC?
Quando você consegue perceber corretamente os estímulos sonoros, é sinal de que seu sistema nervoso central está realizando um bom processamento auditivo. Isso permite que você se localize espacialmente, reconheça padrões acústicos e se concentre em certos sons quando está em ambientes ruidosos. Qualquer alteração nessas habilidades é sinal de que há um distúrbio no processamento auditivo central.
O DPAC não está ligado a uma deficiência do aparelho auditivo, mas sim à dificuldade em compreender o significado das mensagens. Não há uma origem única e nem mesmo um consenso na área médica sobre o assunto. Acredita-se que ele surja quando há alterações neurológicas nas regiões do cérebro ou do sistema nervoso central que controlam o processamento auditivo. As causas mais investigadas, inclusive, são de origem genética. Mas sabe-se que ele também pode ser gerado por lesões cerebrais, por traumatismos cranianos, por perdas auditivas não tratadas, pela demora na reabilitação e pelo envelhecimento natural do indivíduo.
Nas crianças, o DPAC surge, principalmente, por alterações funcionais – sem lesão específica – ou pelo atraso na maturação das vias auditivas centrais. São fatores de risco os nascimentos prematuros, o abuso de drogas e álcool da mãe durante a gravidez, anóxia (ausência de oxigênio, principalmente no cérebro) e otites durante a infância.
Sintomas
O distúrbio do processamento auditivo central pode ocorrer em qualquer faixa etária, mas é percebido mais facilmente durante o período escolar. Como nessa fase da vida há uma maior demanda linguística, em ambientes com estímulos auditivos intensos os sintomas ficam ainda mais evidentes.
Na fase adulta, o impacto é sentido nos ambientes social e profissional. Em entrevista para o portal Deficiência Auditiva, a coordenadora do curso de especialização em Processamento Auditivo do Centro de Pós-Graduação da Escola Superior da Amazônia (CPOS/ESAMAZ), Mariana Cardoso Guedes, aponta as principais dificuldades. “Sempre que o ambiente acústico não for favorável, será necessário maior esforço para a escuta, o que gera desgaste, cansaço e pode culminar com erros na percepção da fala ou dificuldade de memorizar o que foi dito.”
Para que o diagnóstico seja adequado, é necessário realizar uma ação conjunta entre diversos profissionais, como médicos e fonoaudiólogos. Enquanto estes são responsáveis por realizar os exames de audiometria e avaliar o processamento auditivo, aqueles confirmam o diagnóstico, descartando outros problemas que também possam causar os comprometimentos auditivos percebidos. As principais dificuldades apresentadas pelos pacientes se relacionam a:
- Identificação da origem e da distância de sons.
- Entendimento de conversas em ambientes ruidosos (em que muitas pessoas falam ao mesmo tempo ou é produzido eco).
- Acompanhamento de pessoas que falam muito rápido.
- Falta de ritmo musical.
- Compreensão errônea de palavras, com a troca por outras parecidas.
- Memorização de sequências sonoras.
- Leitura e escrita, inclusive com a troca de letras.
- Aprendizado de uma segunda língua ou músicas.
Tratamento para o DPAC
Apesar de ser um distúrbio ligado a diversos fatores externos, há formas de prevenir e, se for o caso, tratar-se. Nas crianças, é possível proceder a uma estimulação auditiva desde a primeira infância, com ensino de música e a utilização de uma linguagem rica e clara durante as conversas.
Evitar a exposição a ruídos excessivos também é uma forma de prevenção, tanto na infância quanto na vida adulta. O diagnóstico e a intervenção precoce são outros fatores determinantes para o bem-estar dos pacientes. Por isso, é muito importante procurar os profissionais adequados ao menor sinal de dificuldade.
Caso o DPAC seja detectado, o treinamento auditivo surge como uma alternativa de tratamento bem aceita pelo meio médico. Ele visa à estimulação auditiva, de modo a maximizar os efeitos da plasticidade do sistema nervoso central. Isso melhora o acesso à informação auditiva, possibilitando que o paciente se comunique melhor em ambientes desfavoráveis, mediante menor esforço.
Ou seja, com o diagnóstico fechado e o treinamento auditivo adequado, é possível minimizar e até reverter os problemas causados pelo DPAC.