Natureza e saúde mental
Rotinas cada vez mais atribuladas podem levar quem trabalha a se sentir esgotado – tanto física quanto mentalmente – quando o dia termina. Mas há formas de remediar essa tensão. Que tal sentar em uma praça e respirar um pouco? Ou contemplar as estrelas durante a noite? Ou mesmo aproveitar os fins de semana para fazer uma trilha? O contato com a natureza, embora pareça um gesto simples, faz mais pela sua saúde mental do que você imagina. Pelo menos é o que indicam as pesquisas mais recentes.
Um estudo publicado em 2016 pela Escola de Saúde Pública de Harvard, nos Estados Unidos, analisou o prontuário médico de aproximadamente 100 mil norte-americanas. Os resultados mostraram a diferença entre viver próximo ou não a áreas verdes. De acordo com os dados coletados, a taxa de mortalidade entre as que tinham contato com a natureza era 12% menor. O índice, a propósito, comportava alguns números que merecem destaque: o percentual de mortes causadas por câncer era 13% inferior; por doenças respiratórias, 35%; e por problemas nos rins, 41%. Os pesquisadores acreditam que há uma série de fatores que ligam as áreas verdes à queda nos índices, como baixa incidência de depressão, aumento da interação social, menor nível de poluição e uma maior propensão a realizar atividades físicas.
Os pesquisadores Ian Alcock e Mathew White chegaram a resultados semelhantes na Escola de Saúde da Universidade de Exeter, no Reino Unido. A pesquisa durou cerca de cinco anos e analisou mais de mil casos. Os resultados mostraram uma melhora imediata na saúde mental dos participantes que se mudaram para regiões próximas à natureza, que se manteve por pelo menos três anos após a transferência.
Além disso, pessoas que se mudaram para áreas mais urbanizadas viram sua saúde mental diminuir no período imediatamente anterior à mudança, com o retorno aos índices normais tão logo o processo foi concluído. “Essas descobertas são importantes para os planejadores urbanos que pensam em introduzir novas áreas verdes em vilas e cidades, sugerindo que eles poderiam fornecer benefícios em longo prazo para as comunidades locais”, afirma Alcock.
Outra pesquisa, elaborada pelo King’s College London e publicada em janeiro deste ano, também analisou a influência das áreas verdes sobre as pessoas que vivem em espaços urbanos. Com a ajuda do aplicativo Urban Minds, os pesquisadores avaliaram mais de duas mil interações, de 64 participantes. Os resultados sugerem benefícios duradouros para o bem-estar mental de cada um deles, em especial para aqueles indivíduos com maior propensão à impulsividade e com risco de desenvolver vícios ou outras desordens mentais. “A exposição a elementos naturais, como árvores, céu ou canto de passarinhos tem um impacto no bem-estar mental momentâneo das pessoas”, conclui o estudo.
Natureza como remédio
“O corpo humano foi feito para se adaptar à natureza”, afirmou Yoshifumi Miyazaki, codiretor do Centro para Meio Ambiente e Saúde da Universidade de Chiba, no Japão, em entrevista para O Globo. Um dos estudos do pesquisador mostrou quais os efeitos da caminhada em ambientes naturais. Após o segundo dia de prática em uma floresta local, um indivíduo registrou aumento de 56% no índice de um determinado tipo de glóbulo branco. Também foi contabilizado um crescimento de 23% na quantidade de células um mês após a caminhada e o retorno ao ambiente urbano.
E esse contato com a natureza nem precisa ser real para começar a gerar efeitos. Outro estudo realizado por um grupo de pesquisadores japoneses da International Society of Nature and Forest avalia o efeitos dos aromas das árvores no organismo. Para os pesquisadores, só o odor já é capaz de diminuir o estresse e a irritação, sendo o pinheiro uma das árvores com maior potencial terapêutico.
Até mesmo ver vídeos de ambientes naturais contribui para a diminuição dos níveis de estresse. Roger Ulrich foi o primeiro cientista a fazer pesquisas na área da biofilia e decidiu analisar também o efeito da natureza virtual nos pacientes. No artigo Recuperação de estresse durante a exposição a ambientes naturais e urbanos, publicado em 1991, ele mostrou que pessoas expostas a vídeos sobre natureza se recuperam mais rápido de eventos estressantes do que aquelas expostas a vídeos de cidades.
Apesar de todos os benefícios, os pesquisadores admitem que os efeitos por vezes são sutis e dependem da personalidade de cada pessoa. Na matéria do jornal O Globo, o biólogo Bjørn Grinde, da divisão de saúde mental do Instituto Norueguês de Saúde Pública, avalia que o gosto pela natureza pode advir de fatores culturais e genéticos. Seja a predisposição evolutiva por uma melhor qualidade do ar ou a socialização estimulada pelas áreas verdes, a verdade é que ninguém sabe ao certo como os benefícios surgem. A única certeza é que eles existem e devem ser aproveitados em sua plenitude.