Importância do psicólogo para a equipe de SST
Por mais que a presença de um psicólogo nas equipes de Segurança e Saúde do Trabalho não seja exigida por lei, as constantes transformações dos processos ocupacionais tornaram essa uma profissão essencial para o bom funcionamento de qualquer empresa. Isso fica ainda mais evidente quando se observa o cenário brasileiro dos últimos anos.
De acordo com a Secretaria da Previdência, os transtornos mentais e comportamentais foram a terceira maior causa de incapacidade para o trabalho em 2017, correspondente a 9% de todo o auxílio-doença concedido naquele ano. Episódios depressivos foram o principal motivo para a concessão de auxílios não relacionados a acidentes de trabalho, equivalente a 30,67% do total, acompanhados de perto pelos transtornos de ansiedade, com 17,9%. Essas situações, somadas às reações ao estresse grave e aos transtornos de adaptação, causaram 79% dos afastamentos entre 2012 e 2016.
Durante a pandemia de Covid-19, as empresas precisaram tomar um cuidado extra com a saúde mental de seus funcionários. Em uma palestra realizada para a Fapesp , a professora titular de Epistemologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM-Unicamp), Marilisa Barros, apresentou os resultados da pesquisa ConVid Comportamentos, realizada no início das medidas de isolamento social. “Das pessoas entrevistadas, 40,4% disseram ter sentimentos de tristeza ou depressão, e 52,6% afirmaram experimentar sentimentos de nervosismo ou ansiedade, muitas vezes ou sempre. O maior impacto na saúde mental ocorreu nos adultos jovens, nas mulheres e nas pessoas com antecedentes de depressão”, diz.
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“Hoje em dia se fala muito em capital humano, que é essencial para qualquer empresa. Mas se ele não estiver alinhado, satisfeito e motivado, nada funciona. Muitas questões relacionadas à organização e ao contexto do trabalho podem levar ao adoecimento, seja a partir do estresse ocupacional, da depressão no trabalho ou da Síndrome de Burnout”, explica Liliana Guimarães, psicóloga especialista em Psicologia da Saúde Ocupacional, ao podcast Podprevenir. Para identificar a fonte dessas questões, é feito um diagnóstico do indivíduo, do contexto do trabalho e do cenário global, traçando um panorama completo do que pode levar ao adoecimento.
A pesquisadora expande essa ideia no artigo A falta do psicólogo da saúde ocupacional na equipe de Segurança do Trabalho. Liliana aponta que a psicologia ocupacional é um campo emergente, “que busca integrar investigação e prática com um foco voltado para os riscos psicossociais, cada vez mais presentes nos diferentes contextos de trabalho”. Ou seja, está dedicado a pesquisar e intervir em questões de segurança e saúde do trabalho, provendo uma maior qualidade de vida e garantindo o bem-estar do trabalhador.
Atuação do psicólogo ocupacional
Para identificar os fatores que podem levar ao adoecimento, uma das principais ferramentas dos psicólogos é a avaliação psicossocial. Ela é composta por instrumentos psicológicos e entrevistas individuais para analisar o controle emocional e o poder que o empregado possui para superar o estresse e enfrentar obstáculos no ambiente de trabalho. São avaliadas questões como atenção, memória, raciocínio e distúrbios do sono, além da adaptação às normas e procedimentos da empresa.
São esses resultados que ajudam as empresas a entenderem como o empregado agirá e reagirá diante de situações de risco, fornecendo um panorama de suas condições psicológicas, sociais e clínicas. Tudo isso para garantir o chamado “comportamento seguro”. Mas não é só isso que é avaliado. Ao observar todo o cenário para além do indivíduo, é possível identificar os fatores psicossociais de risco do trabalho. “O termo risco psicossocial é um conceito unitário que cabe em um amplo conjunto de situações potencialmente negativas para a saúde dos trabalhadores e para a dignidade do trabalhador”, diz Liliana. A pesquisadora acredita que cinco riscos podem ser apontados pensando no futuro do trabalho:
- Novas relações contratuais e a insegurança no trabalho.
- Envelhecimento da mão-de-obra.
- Intensificação do trabalho.
- Elevadas exigências emocionais no trabalho.
- Relação de equilíbrio precária entre trabalho e casa.
Por isso, o psicólogo ocupacional é responsável pela elaboração de ações coletivas e individuais, de modo a tornar o ambiente de trabalho cada vez mais salubre, com políticas organizadas e gestão compatível com as necessidades dos trabalhadores. Isso pode ser feito de diversas formas, como por pesquisas para melhoria do clima organizacional, ações de conscientização e informação, melhorias nos processos de recrutamento e seleção, identificação, prevenção e tratamento de questões emocionais, apoio à liderança, entre outros pontos.
Ou seja, a Psicologia Ocupacional precisa atuar tanto na prevenção quanto na intervenção, com um trabalho multidisciplinar e que perpassa todos os campos de atuação de uma empresa. Afinal, cuidar do bem-estar físico e mental dos trabalhadores é um investimento para a empresa, com retorno futuro em termos de produtividade e motivação. Longe de ser um gasto desnecessário, essa é mais uma forma de promover o desenvolvimento de todos os envolvidos.
Apoio psicológico
A Sercon entende o quão difícil é esse trabalho junto aos colaboradores e como os transtornos mentais podem comprometer a produtividade e gerar afastamentos. Falar sobre o assunto é importante e, por isso, disponibilizamos atendimento psicológico para clientes, colaboradores e demais interessados. É uma forma de contribuir para a saúde mental dos trabalhadores, principalmente em momentos de imensa incerteza, contribuindo para o bem-estar coletivo.
Foto de Alex Green no Pexels